domingo, 24 de abril de 2011

Abordagem dialógica das interacções em contextos educativos

A escola actualmente tem necessidade de responder aos desafios que lhe são colocados no sentido de se confrontar com uma população cada vez mais heterogénea, fruto das mudanças inerentes ao mundo actual. Pretende-se que a escola garanta a educação integral e contribua para um processo de igualdades de oportunidades nos processos de aprendizagem.
Perante a necessidade de adaptação da escola a esta nova realidade vêm-se implementando modelos de apoio diversificados, entre os quai se situam os sistemas de tutoria. É neste contexto que surge a figura do tutor, como resposta à diversidade populacional da escola será uma das mais complexas e importantes formas de apoio. Assim, o tutor surge como alguém que é capaz de potenciar o projecto e sentido de vida daquele que acolhe, contribuindo para que todas as suas potencialidades sejam despertas e estimuladas. Este só fará sentido pela co-construção alicerçada num projecto dialógico em que como afirma Freire (1994, citado por Mello, 2002), a "unidade na diversidade" é alcançada. Também o educador social fará a mediação entre a escola, a família e a comunidade, propondo medidas que sustentem a diversificação de estratégias e métodos diversificados.
Por sua vez é o Conselho de Turma que deverá dar início ao processo. Esta sinalização é comunicada ao director de turma que encaminhará para os Serviços de Psicologia e Orientação da escola, passando-se á fase de diagnóstico. No âmbito do diagnóstico  realizado pelo psicólogo, que permite avaliar a situação. Assim atendendo à natureza do problema do problema os referidos elementos da equipa darão conhecimento às redes sociais que poderão intervir. Depois de definido o plano o educador social há que fazer o trabalho com os pais.
Alarcão, I, (1996). Reflexão crítica sobre o pensamento de D. Schon e os programas de formação de professores. In I. Alarcão (Org), Formação Reflexiva de Professores. Estratégias de Supervisão. Porto:Porto Editora.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Os planos de acção tutorial na perspectiva de Vygotskiana

Lev Vygotsky

Vygotskiana foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interacções sociais e condições de vida. Costumava analisar de forma crítica outras realidades.  Morreu em 1934, vítima de tuberculose, aos 37 anos.
As suas obras incluem alguns conceitos que ocupam lugar de destaque na área do desenvolvimento e da aprendizagem. Um deles é “Zona de Desenvolvimento Proximal” (ZDP), que se relaciona com a diferença entre o que a criança consegue realizar sozinha e aquilo que, embora não consiga realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de um adulto. A ZDP é tudo o que a criança pode adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado oportunidade.
Vygotsky particulariza o processo de ensino e aprendizagem, colocando aquele que aprende e aquele que ensina numa relação interligada.
As aplicações recentes da obra deste autor à educação explicam a aprendizagem e os princípios pedagógicos tais como, os processos de exemplificação e orientação dos adultos, a criação de situações pedagógicas que permitam ao aprendente desenvolver capacidades e progredir com sucesso.
Para o autor todo o conhecimento é construído socialmente, na âmbito das relações humanas, defendendo que o desenvolvimento da inteligência, é produto de convivência.
O papel dos adultos, segundo Vygotsky, prende-se com a função de auxiliar no desenvolvimento destas capacidades. Para adquirir os conceitos da literacia, são propostos 4 passos pedagógicos: o envolvimento natural, no qual os educadores criam oportunidades para os alunos explorarem as actividades da literacia; a aprendizagem mediada, onde se verifica o apoio do adulto; a actividade externa, que são as aprendizagens dirigidas à criança com a ajuda de materiais de apoio e finalmente a aprendizagem interna ou independente, que surge quando os alunos podem ligar os conceitos aprendidos a outros que se relacionam.
Para o autor, o lugar das crianças, mesmo as com necessidades especiais é na escola, onde encontrará condições para o desenvolvimento das estruturas do pensamento e da linguagem.
Vygotski considerou precocemente ideias que são hoje muito actuais e fundamentam uma concepção de educação inclusive, tendo que a escola hoje uma população cada vez mais heterogenia.
Neste contexto surge a figura do professor tutor para servir a diversidade, ajudando a diminuir os factores de risco nas escolas e no incremento de factores de protecção, nos domínios da aprendizagem e das condutas pessoal e social. A toturia escolar, orientada para servir a diversidade, constitui-se como uma das garantias do bem estar e do desenvolvimento integral da criança ou do jovem, apoiando no desenvolvimento de acções de socialização, acompanhamento e orientação que possam conduzir à concretização de um projecto de vida.
  • BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre (RS): Artes Médicas, 1998
  • LA TAILLE, Yves de; KOHL, Marta O.; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vigotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão.
  • MARTINS, Margarida A. e NIZA, Ivone (1998) Modelos de Escrita in Psicologia da Linguagem Escrita, Lisboa, Universidade Aberta.
  • OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sóciohistórico (2a. ed.). São Paulo: Scipione, 1995.
  • OLIVEIRA, Marta Kohl de. Pensar a Educação: Contribuições de Vygotsky. In: Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 1988.

  

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O interaccionismo simbólico e a Escola de Palo Alto

As transformações  sociais que têm acontecido nas últimas décadas atingem inevitavelmente as relações humanas, reflectindo-se em atitudes de intolerância, egocentrismo, incapacidade de saber ouvir e respeitar o outro, formando um conjunto de obstáculos à comunicação.
Recebemos informações em diferentes contextos de socialização e a sua organização depende dos significados que cada um de nós lhe atribui. Perante a nossa experiência que se vai complexificando ao longo da nossa vida potencia-nos com uma capacidade descriminatória que nos permite diferenciar estímulos e ajustar comportamentos, isto é, o desenvolvimento de competências de relacionamento connosco e com os outros. 
A escola é o espaço priviligiado para promover momentos de contacto formal e informal definindo com clareza a relações formais a estabelecer entre os órgãos e pessoas da escola. A comunicação é também forma de conhecer e/ou estar atento às relações que existem no seio da organização, possibilitando o agir de forma mais fundamentada. Todavia os sistemas estão hierarquicamente organizados, por exemplo uma turma que por sua vez fazem parte de um sistema mais alargado que é a escola. Assim, é na escola que o significado dos seus alunos, professores, turmas, pode ser entendido e em que o comportamento de cada um afecta os outros.
Em contexto escolar, existe a tendência para um certo desequilíbrio nas relações interpessoais tanto professor/alunos como entre os pares.
Neste contexto deve definir-se com clareza aquilo que se espera das relações estabelecidas no seio da sala de aula, da turma e da escola. Para que fique clara a posição hierárquica dos intervenientes e para que o professor compreenda com mais clareza as atitudes dos alunos.  Neste sentido era de facto, importante ter-se isto em conta aquando da  formação inicial de professores, uma vez que se têm verificado graves problemas nas escolas. Assim, a criação de programas para o desenvolvimento pessoal de professores e também pais para se dotarem de competências de auto-observação e auto-reflexibilidade e de competências de promoção de ambientes seguros de cooperação constituiam-se uma mais valia.
 O aumento do número de situações de conflito, e que se tentava resolver com acções individuais penalizando sempre o aluno e desresponsabilizando o professor e a sua acção na sala de aula tem aumentado nos últimos tempos.
Torna-se também necessário implementar novas metodologias de trabalho com os alunos, que centrem neles próprios o processo de aprendizagem, permitindo desenvolver competências sociais, de comunicação, de adaptação a novas situações e assim aumentar a motivação e consequentemente diminuir as situações de conflito.
A origem deste problema está, quando um professor funciona ao mesmo nível dos seus alunos é porque as hierarquias e fronteiras não estão bem definidas e claras entre ambos. A relação entre aluno e professor é feita de espectativas (efeito Pigmaleão) que podem melhorar ou piorar o resultado dos alunos, uma vez que todo o comportamento é comunicação.
Assim, escolas, turmas, professores e alunos fazem parte de uma estrutura complexa, em que qualquer problema, mesmo que individual, implica comportamentos adaptativos no sistema na sua totalidade. Quando isto não acontece é porque não houve investimento pessoal, desenvolvendo-se identidades difusas que não activam a capacidade de auto-organização.
Há necessidade de um comportamento transaccional equilibrado baseado na ideia que todos somos diferentes e que fazemos parte de um contexto de interacções simbólicas que não são percepcionadas do mesmo modo por todos os actores contextuais. Aprender a viver e a conviver com os outros é algo que acontece num contínuo de vivências e convivências desde a infância até à morte, por isso, a atitude mais eficaz é que num trabalho conjunto, os principais responsáveis pela socialização dos mais jovens compreendam as necessidades de segurança destes, assumam uma estratégia de aproveitar as oportunidades para a construção de relações positivas e que sejam modelos que reforcem comportamentos pós-sociais.
Bibliografia 
Costa, M.E.&Matos, P.M.(2007). Abordagem Sistémica do Conflito; Lisboa; Universidade Aberta 
Matta, Isabel (2001). Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem; Lisboa ; Universidade Aberta 
Reflexão
 De facto, o interacionismo simbólico, com origem na psicologia social e na sociologia, é uma corrente de pensamento que analisa as interações baseadas na simbologia individual considerando que é ela que dá um sentido à acção individual. Em contexto escolar, as interações fazem parte do quotidiano dos alunos e professores e é em função das vivências de cada um e da forma como interpretamos as ações dos outros, que vamos interpretando a realidade à nossa volta, utilizando uma simbologia que servirá de referência para a nossa ação. Todavia com o tempo, os significados podem sofrer alterações, é aqui que o professor deve actuar, principalmente quando a simbologia que os alunos têm interiorizada não é a mais saudável para o seu desenvolvimento integral. Assim, através do diálogo, o professor poderá provocar a mudança de comportamentos.
Neste contexto, segundo o modelo da Escola de Palo Alto, uma interacção está ligada à presença simultânea de actores sociais em uma mesma situação. A presença do outro afecta-nos, consequentemente, isto significa que toda a relação humana necessariamente implica uma actividade conjunta e recíproca.

domingo, 10 de abril de 2011

Interacionismo Simbólico

O Interaccionismo pode ser entendido como uma escola da microsociologia, além de constituir tanto uma perspectiva teórica, quanto uma orientação metodológica dentro da psicologia social e teve a sua origem na década de 1930 na Escola de Chicago.
Surgiu em oposição às teorias sociológicas de caráter totalizantes, como o Funcionalismo, que concebe as relações e acções sociais como derivadas das normas e regras sociais pré-estabelecidas.
O foco desta teoria concentra-se, justamente, nos processos de interação social que ocorrem entre indivíduos ou grupos - mediados por relações simbólicas.
Segundo a proposição de Hegel, por exemplo, e de outros filósofos que escreveram sobre a linguagem, o mundo simbólico só se constrói por meio da interacção entre duas ou mais pessoas e, portanto, o simbolismo não é resultado de interação do sujeito consigo ou mesmo de sua interação com um simples objeto. Apesar de ser um sentido individual e uma base para todos e quaisquer sentidos que cada um dá às suas próprias acções, ela é fundada nas interações do indivíduo, ou naquilo que o "eu" faz sendo regulado pelo que "nós" construímos socialmente.
Blumer, um estudioso e intérprete de Mead, e criador do termo "interacionismo simbólico", pôs em evidência as principais perspectivas dessa abordagem: as pessoas agem em relação às coisas baseando-se no significado que essas coisas tenham para elas e esses significados são resultantes da sua interação social e modificados por sua interpretação.
Sociólogos que trabalham nessa linha pesquisaram uma extensiva gama de tópicos utilizando uma variedade de métodos de investigação. As áreas da sociologia que foram mais influenciadas pelo interacionismo simbólico incluem a sociologia das emoções, comportamento desviante / criminologia, comportamento coletivo / movimentos sociais e a sociologia da vida sexual.


  • BERGER, PETER; LUCKMANN, THOMAS. A construção social da realidade. Petrópolis, RJ, Vozes, 1974




  • FARR, ROBERT. M. As raízes da psicologia social moderna. RJ, Vozes. 2008


  • JUNG CARL G. (org.). O homem e seus símbolos. RJ, Nova Fronteira, 2008




  • FREUD SIGMUND. Dois verbetes de enciclopédia (1923). Ed Standard das obras completas de S. Freud. Vol. XVII RJ Imago, 1970





  • A Escola de Palo Alto - Califónia

    Foto: Gregory Barteson

     Esta  Escola surgiu nos Estados Unidos, Califórnia. Também chamada de Colégio Invisível, inicia os seus estudos em 1942, impulsionada pelo antropólogo Gregory Barteson.
    O Modelo de Palo Alto tem origem nos anos 1980, na sequência dos trabalhos realizados nesta escola. Segundo o modelo criado, uma interacção está ligada à presença simultânea de actores sociais numa mesma situação. A forma como nos relacionamos uns com os outros, quer seja através de escrita, oralidade, atitudes, gestos e mesmo a forma de vestir e comunicar, são aspectos que temos que ter em conta. Isto quer dizer que não existe "um acto individual", mas sim "acto social". Isto leva-me a reflectir sobre a noção sistémica de que nada é isolado e que qualquer acção terá repercussões sobre todo o sistema.
    Os estudiosos da Escola de Palo Alto contrapõem-se com o “modelo linear e telegráfico”, desenvolvido pela teoria matemática. Eles tentam aplicar outro modelo que é o circular retroativo, do qual a voz do receptor tem grande importância tanto quanto a do emissor. O princípio da retroação e feedback do esquema circular foi criado por Norbert Wiener (1948), um dos estudiosos da teoria matemática. Bateson e seus seguidores da Escola de Palo Alto acreditavam que a comunicação deveria ser estudada a partir de um modelo próprio, das ciências humanas, e não através de lógicas matemáticas.
    No contexto de sala de aula, é pertinente definir com clareza, logo de início, aquilo que se espera das relações estabelecidas, para que fique clara a posição hierarquica do professor perante os alunos.
    Neste contexto, ser bom ou mau professor é ter um comportamento que corresponda às expectativas que a comunidade tem de nós próprios. 
    Muitas vezes, o processo de socialização que o aluno teve ou tem, nomeadamente na família, não lhes desenvolveu as competências para perceber que os outros têm expectativas quanto ao seu comportamento na escola. Ao agir de uma forma que corresponde às expectativas do seu grupo, viola as expectativas de quem está numa instituição que valoriza outro tipo de actos e reprime as acções em causa, gerando assim conflitos. Assim, o trabalho do professor é de comunicação verbal e não verbal, constante. Por isso a escolha de uma boa estratégia de comunicação é fundamental para que o que se pretende transmitir tenha sucesso.
    Neste contexto, os aspectos comunicacionais na sala de aula é de primordial importância, no entanto muitas vezes, não lhe é dada a devida importância quando se planifica. 
    Assim, dada a sua pertinência deveria ser dada uma atenção especial na formação inicial de professores de forma a despertar o interesse e a sensibilidade, para a necessidade de considerar além da comunicação formal a informal com o forma de conhecer e estar atenta às relações, permitindo-lhes agir de forma fundamentada.

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0080-62342005000100014&script=sci_arttext&tlng=pthttp://educacao.uol.com.br/sociologia/interacionismo-simbolico-fundamentos.jhtm
    http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/52.pdf
    http://www.lib.uchicago.edu/projects/centcat/centcats/fac/facch12_01.html
    http://www.brocku.ca/MeadProject/Mead/pubs2/mindself/Mead_1934_toc.html
     http://www.faculdadesocial.edu.br/dialogospossiveis/artigos/7/06.pdf
    http://cyberdemocracia.blogspot.com/2007/07/interaccionismo-simblico-e-comunicao.html